No interior do Norte

Desculpem.... mas este blog é apenas para pessoas inteligentes! Se não é o seu caso, peço lhe suavemente que se retire. Desculpe o incómodo!

quarta-feira, novembro 1

MIGRAÇÃO



Este parte…aquele parte…
E todos, todos se vão…
Galiza, ficas sem homens…
Que possam cortar teu pão….

Adriano Correia de Oliveira – Canção do emigrante




Hoje vergamos o corpo e espírito á terra. Descansamos a cruz….
Acudimos Atlas… Suportamos todo peso da orbe. Em credo!
É jornada de peregrinação de sentidos e nostalgia…De paz interior…
De silencio…
De pudor…
De um estranho pudor…
Gémeo com o nascer ou o parir…
Tiramos do arcaísmo esse léxico inaudível, telepático, que encerramos em cofre de Pandora ao longo dos dias restantes e usamos hoje!
Tornamos frágil nosso coração….Tão frágil quanto deveria ser!
Mas só hoje….Apenas hoje….

Hoje não é dia bonito, de sugestivas publicidades televisivas, que meticulosamente nos escolhem o presente…
A morte não vende!
Submete-nos!
Hoje rumamos á essência…. Ao desconforto…Á DOR!
Dos que partiram….
Que deixaram em nossas vidas, pão de memória …
Esses NOSSOS, que emigraram na barca do além e aguardam novas da terra árida em que deixaram semente….
Largaram de salto, contrabandeando a alma sem despedida….num pulo!
Num apelo …sem aviso!
Deixando-nos entregues á saudade, ao pão áspero da saudade….
Sem um beijo de despedida….
O gume branco da faca serrilhada que amordaça nossos gritos, ficou velho e ferrugento do desuso…
Implacável desuso….
E com ele, jaz na velha mesa da cozinha a petróleo, o pão de centeio que nos deixaram para matar a fome!!!!
Inteiro!
Ainda cheira a lume! Tem a côdea tostada …fumegante….fresca….
Irreflectidamente vogamos na idade….desandámos no tempo…..
Pisamos com socos de madeira, as lajes negras de fumo dessas cozinhas da alma….
Sentimos a candura, o sabor desse pão, cortado em nacos por sábias mãos…
Como facas...
Que sabe a sustento….
Tem sal no aroma….tem o mistério do fermento da vida, que germina perfeito no segredo….
Tem lume de pinhas e giestas….tem brasa de ramiços de pinheiro….
Se Deus quiser, há-de levar um naco de queijo de cabra ou a gordura do presunto… e será tragado no meio de sorrisos entre mãos gigantescas a afagarem-nos o rosto…

Regresso...


Está fria agora a cozinha , sem lume….
Sem Fumeiro….
Sem gente!
Parece uma campa de mármore alvi-negro!
Com um Cristo de bronze – indiferente - á cabeceira…
Talvez seja!
Pois nem os círios que acendemos têm força para aquecer os potes de água fervente que fariam caldo!
(Ou trazer de volta quem o sabia fazer….)
Nem as gélidas flores que estendemos na terra como lençóis de gratidão , soltam pólen de presença…….
NUNCA mais afrouxamos as palavras engasgadas, que ficaram por dizer…por ouvir….
Carpimos lágrimas…
Inodoras, puras, cristalinas…
Que escorrem pela cara curva… até ao chão….
Iguais ás que nos choram….
Neste brusco crescer que fez com que a(o)s entendêssemos…

Trancamos a porta…correndo o ferrolho no Sinal da Cruz….
Apressamo-nos a partir….
(Também nós partimos…)
Deixamos o pão intocável em cima da mesa…
Não há pão que mate esta fome da saudade…apenas a alimenta!



Vidago, 1 de Novembro de 2006




………
Hoje sugiro o silêncio!


48 Comments:

Blogger Sunshine said...

Saudade é dormir sem saber onde, chorar sem ter um porqué,
chamar por quem não nos responde,
e abraçar quem não nos vê.

Perdoa-me de ser egoista ao ponto de sentir como se entrastes na minha alma que te revelou o sentimento atrás deste texto...

Como é que sabes?... Como é que poderias saber?...

São poucos os textos que me emocionam a lagrimas, é preciso saber falar directamente ao meu coração... it takes one to know one? Ès immigrante Paulo Santos?

Hoje mais que nunca, estendia-te a mão pelo ecrã e convidava-te para um passeio... mais que nunca, tenho curiosidade de te conhecer.

Parabéns pelo excelente texto... para mim teve um especial sabor e significado... Obrigada.

1:26 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Excelente!
Uma Homenagem intensa aos que partiram!
Aos que nos deixaram... Aos que abalaram!
Essa dor da visita!Da ida ao tumulo venerar a saudade!
Mais que amar, este texto tocou me cá bem no fundo!

Admiro muito a tua escrita!
ÉS um escritor!
Parabens!

5:00 da manhã  
Blogger Irritadinha said...

Fantástico, melhor homenagem não lhes podia ser feita. É preciso lembra-los, sempre.

Beijo grande

7:04 da manhã  
Blogger eu mesma said...

É um bom dia para aproveitar a visita aos cemitérios, olhar para as lápides e tomar consciência do tempo que nos é concedido para andarmos por cá...

Saudades? Sim, sem dúvida.. muitas mesmo! Mas não deveríamos nós, em vez de lamentar as partidas, congratularmo-nos por termos tido o privilégio de termos tido essas pessoas maravilhosas na nossa vida?
Homenagear a vida em vez da morte! Lembrar essas pessoas pelo que foram, não pelo que deixaram de ser...

Hoje não vou ao cemitério, prefiro dias menos confusos. Mas não deixo de recordar aqueles que me fazem falta...

Obrigado por este texto lindo.

Beijinhos

11:14 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Só é pena algumas pessoas precisarem deste dia para lembrar quem partiu. Só é pena que haja gente hipócrita a ir hoje arranjar a campa, chorar lágrimas de crocodilo, e durante o resto do ano nem se lembrar de quem já não está cá. Só é pena haver gente que nunca deu valor a esse alguém, enquanto era vivo, e agora chorá-lo.

3:04 da tarde  
Blogger MEU DOCE AMOR said...

Silêncio e reflexão.

bj d
d

8:13 da tarde  
Blogger Giorgia said...

excelente homenagem, Paulo!
Eu que sempre tive mais espirito dos que partem do que dos que ficam... e em comum, sempre a saudade...

beijinhos grandes

11:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Excelente texto!
O resto é pura reflexão...
um abraço

12:14 da manhã  
Blogger Unknown said...

Paulo, tu tens o dom de tocar profundamente no coração das pessoas!
Tocaste-me...
Beijinhos

11:46 da manhã  
Blogger Andreia said...

A saudade daqueles que já foram, mas continuam connosco...

12:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sem dúvida uma bela homenagem aos que já partiram. Apesar da dor,da saudade e da sensação do que ficou por dizer, devemos sempre lembrar dos momentos que passamos com quem já partiu e agradecermos o que aprendemos com elas e de as termos conhecido.

Bonito texto. Continua a escrever dessa maneira.

12:53 da tarde  
Blogger Enfim... said...

Resta me reflectir.Enfim...

1:39 da tarde  
Blogger Gracinha said...

Dá que pensar...sim senhor!
Silêncio...

Beijinhos

2:24 da tarde  
Blogger meluna said...

Quis retribuir a cortesia e vim cá espreitar...belos textos, belas reflexões, belas criticas...gostei.Voltarei,certamente. :)

4:23 da tarde  
Blogger Sofia said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

5:08 da tarde  
Blogger Sofia said...

E só quem o passa na pele sabe o sabor dessa amarga saudade. Mas se todos partem, porque nao partirmos tambem nós?

Vou partir. Deixo-te um beijo

5:10 da tarde  
Blogger vida de vidro said...

Elegemos um dia no ano para lembrar os que se foram. Na realidade, a saudade daqueles que foram importantes para nós nunca nos larga. Sei-o por experiência, que a minha lista de perdas já é longa. O teu texto comoveu-me muito. **

5:24 da tarde  
Blogger Maria! said...

Não gosto do pão deixado ao desalento em cima da mesa.
Os que partiram deixaram-no com a saudade cabe a nós multiplica-lo com a alegria.


As duas metades do meu coração infelizmente partiram (prefiro pensar assim).
Não me deixaram nada.
Nem um pedaço de pão.

Agora multipico o nada com quê?

Hoje excepcionalmente os unicos beijos que dou são para 'eles'.

5:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Exelente texto Paulo.
Obrigado pela vesita.
Tb gostei, virei mais vezes
Beijo
Sereia

6:19 da tarde  
Blogger Som do Silêncio said...

Muto obrigada pelas palavras simpáticas que deixaste no meu canto.
És sempre bem vindo.
Quanto ao que escreves...bem...só posso dizer que quem não sentiu algo...não tem coração.

Beijo

8:33 da tarde  
Blogger MEU DOCE AMOR said...

Oi paulo:um beijinho para ti e obrigada pelo comentário tão docinho.

bj d
d

9:28 da tarde  
Blogger L said...

Paulinho...

Tenho andado desaparecida, mas vim aqui deixar um beijo buchechudo! lololol

emn***

10:20 da tarde  
Blogger Bia said...

Agora vou usar uma frase que não é minha, mas vou escrevê-la á minha maneira, todos os que passam por nós levam um bocadinho nosso e deixam um bocadinho seu... Eu lembro-me muito bem de quem amo e já partiu, mas lembro-me todos os dias pois fazem parte da minha vida, apenas deixei de os ver, quando tenho muitas saudades, fecho os olhos e consigo vê-los e até falar-lhes...
Lindo texto.
beijinho

10:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

acho k voltamos smp a ver quem parte, um dia.

11:44 da tarde  
Blogger Stella said...

Obrigado por fazeres sonhar e reflectir sobre o que a vida tem pra nos dar e que ás vezes nos passa ao lado. temos o habito de esquecer,quando devemos aproveitar e relembrar sempre,especialmente as pessoas que vêm e vão na nossa vida,sao elas que nos fazem 'crescer'!
Um beijinho***

12:26 da manhã  
Blogger Lord of Erewhon said...

Eu não...
:)=

1975

Hawkwind-The Golden Void Part II
http://download.yousendit.com/8A4D0D16368597F3

Hawkwind-The Wizard Blew Is Horn
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Hawkwind-Magnu
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Hawkwind-Standing At The Edge
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Hawkwind-Warriors
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1997

Hawkwind-(live)-Wheels
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NOTA: SÓ DISPONÍVEL NOS PRÓXIMOS 7 DIAS.

4:40 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Hoje cheira a tristeza por aqui, mas deixo o meu silêncio para ti.

10:00 da manhã  
Blogger just me, an ordinary girl said...

.....

E um beijo meu, para ti Paulo.

10:04 da manhã  
Blogger Ponta Solta said...

O silêncio é o maior refúgio para aquilo que deixamos por dizer, e as lágrimas o melhor canto para guardar a saudade.

Este post espelha a transparência do que ficou... por dizer, por fazer, do vazio que ficou por povoar.

Obrigada.

10:40 da manhã  
Blogger o alquimista said...

Saudade! Somos ou fomos um pis de imigrantes também eu já passei por isso...saudade na esera, alegria na chegada...brilhante texto...


Abraço amigo

11:19 da manhã  
Blogger Angela said...

Adorei a forma como trataste o tema da morte, essa viagem para uma terra desconhecida tal qual acontece aos emigrantes...

E depois a referência à saudade, a esse pão que não pode mais ser partilhado, que talvez não soubemos partilhar enquanto podíamos...

Revelaste de facto uma extrema sensibilidade.

Silêncio.

2:13 da tarde  
Blogger Sofia said...

Querido amigo!

Não posso deixar de te dizer que me emocionei quando li o teu comentário. O Para ti acabou. Foi uma fase, longa mas que finalmente chegou ao fim. Tal como disse descobri muita coisa nova. Uma delas és este mundo misterioso que une os bloguistas e nos faz sentir e encontrar tanto conforto nos seus meandros.
Paulo, nunca deixarei de te visitar porque tal como disse tambem já fazes parte do meu mundo. Avredita que o carinho que sentes por mim é recíproco.
um beijo enorme Para Ti

3:37 da tarde  
Blogger conchita said...

Ainda não perdi ninguém pelo qual dária a vida, mas se isso acontecer não sei como vou reagir...
Quero acreditar que depois da morte, iremos um dia voltar a terra, mas encarnando outra personagem, espero que sim...
Obrigada pela visita :)

5:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Blogue duma estética irrepreensível, comprometido com a beleza da vida, a merecer mais e constantes visitas no futuro. Gostei imenso desta página elegante. Bom fim-de-semana.

6:28 da tarde  
Blogger Liliana Silva said...

És um excelente escritor, também eu te digo.
É óptimo poderes partilhar tudo isto connosco e nos mostrar a tua escrita.

Uau.

Hoje o teu texto precisa de ser mastigado e bem compreendido.
Gostei desta tua forma.

Aproveito para desejar bom fim-de-semana, e deixar-te um beijinho grande também :D **

10:33 da tarde  
Blogger Maria Araújo said...

Muito sinceramente não consegui ler até ao final...o que é um erro gravíssimo,mas uma decisão.
Iria acabar banhada em lágrimas,o que pode ser efectivamente bom,mas hoje certamente não o seria.
A tua sensibilidade fascina-me!
Muitos parabéns...(o pouco que li bastou para possuír uma opinião!)
bjs*

12:20 da manhã  
Blogger Velutha said...

De visita ao interior norte... cheia de saudades. As lágrimas rolaram no dia em que li este post pela primeira vez e continuaram a soltar-se sempre que o reli. E já foram várias vezes! Os teus posts, ainda que tristes, consolam-me sempre porque dentro das tuas palavras vêm bocadinhos de ti. Obrigada Paulo por te entregares aos amigos desta maneira. Não há pão, não há vinho, não há carne, não há peixe que matem esta saudade. A que tenho do teu canto de quando em vez. E hoje ela apertou.
Beijinhos migo

3:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Parabens por este intenso post!
Toca a alma!

Maria L.

1:11 da manhã  
Blogger Marlene Maravilha said...

Tem muita gente inteligente visitando este blog!!!
Prefiro o silencio. Assim vou ficar. As vezes se faz necessário!
carinhos

5:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

mt bem escrito e maravilhoso cm sempre
bjinhos adorei

8:59 da manhã  
Blogger Dafne said...

Olá!
Parabéns pelo teu excelente texto.
Fiquei muito emocionada.

Em dois anos perdi duas pessoas que amava.Amava mesmo. Um amor verdadeiro, de neta para avós.
(Cai-me uma lágrima).

Não há dia nenhum que passe que não me lembre deles. Não há dia nenhum que a saudade não dilacere o meu coração. Partiram. Tive o privilégio de passar com eles trinta anos da minha vida.

Como costumo dizer" a minha vida é um homenagem permanente ao meus avós!"(cai-me outra lágrima).

Um beijo,

11:49 da manhã  
Blogger Maria said...

Lindíssimo.
Sem mais palavras.
Ficarei só com a música.
Boa semana

12:52 da tarde  
Blogger kurika said...

Saudade é um terno sentimento que muitas vezes ou é dor ou é nostalgia...

Silêncio é o som de Vidago, não?!
Passei pelo teu cantinho e gostei muito!
Parabéns...!!!

Bjs

2:24 da tarde  
Blogger Sea said...

e que ele se instale e ecoe incessantemente :)

3:17 da tarde  
Blogger A Flor said...

Por vezes, o silêncio vale ouro... :D

Como eu gostaria de escrever assim! :-)

Não há dúvida... escreves com a alma!

Fica bem
Um beijinho da Flor :D

3:32 da tarde  
Blogger Diva said...

"(...) não há pão que mate esta fome da saudade... apenas a alimenta"

Sem palavras... Adorei... Aqui fica o que canta a tradição Açoriana sobre a Saudade:

"A palavra 'saudade'...quem será que a inventou?
O primeiro que a disse concerteza que chorou...

Mandei fazer um navio com vinte e quatro janelas.
Ai, para embarcar Saudades, que já não posso com elas...

Fui chorar saudades ao pé de uma fonte fria
Era mais o que eu chorava do que a água que corria..."

Se te conseguisse deixar a melodia aqui num simples comentário seria mais fácil... infelizmente ficam apenas algumas das quadras das tantas canções/"balhos" de SAUDADE... não estão tão beonitas como o teu texto mas são deveras sentidas por todo o povo.

Beijo enCANTAdo

4:20 da tarde  
Blogger ruth ministro said...

"Não há pão que mate esta fome da saudade…apenas a alimenta!" ... Adorei, de todo o coração.

Beijos enormes para ti :)

4:24 da tarde  
Blogger  said...

Boa sugestão! Às vezes mais vale o silêncio que mil palavras... chiuuu

11:27 da tarde  

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