No interior do Norte

Desculpem.... mas este blog é apenas para pessoas inteligentes! Se não é o seu caso, peço lhe suavemente que se retire. Desculpe o incómodo!

terça-feira, agosto 29

REGRESSO



É noite. Muito Noite! Tudo dorme, menos eu e uma pedra, que quando fumo um ensonado cigarro avisto da janela. Cumprimento-a em vénia. Faz de conta que não me vê…Não a condeno.... Reprova a quantidade de visitas e cigarros que lhe despertam o ninar….
Volto para o Interior... Tímido.
Sento-me aguardando pacientemente o trem que me levará de novo á blogosfera.
Já tirei bilhete! Tenho-o bem guardadinho na imensidão do bolso vazio de meu casaco. Vezes sem conta , enquanto fito os demais companheiros de viagem, aperto-o forte na palma de mão. Tou com saudades. Este pedaço de papel vermelho pardo é a ponte….
Comprei-o na estação… dirigi-me ao guichet aonde o costumeiro e azedo vendedor me zomba… Para onde?
-Interior Norte… se faz favor…
-estes jovens…. Ida e volta?
-Só ida…
-No meu tempo não havia nada disto - reclamava triunfante enquanto mastigava tabaco que lhe comia os cantos dos lábios e acastanhava de nojo o bigode
- Vejam bem a canalhada de agora (continuava a lengalenga) - Estende-me severamente o bilhete… - Têm a mania que já são gente sabe?? (fala para um “amigo” imaginário…) a falar sobre tudo e todos , a criticar o governo…. Ás vezes pergunto se foi para isto que se fez o 25 de Abril….
-Também eu me pergunto…. Mais do que o senhor Restelo julga…. Afasto-me, deixando o velho a falar sozinho….
Ao meu lado está Harry Potter. Mais antigo e menos sonhador. O buço foi trocado por um mísero bigodinho de pelos soltos e a poeirenta fatiota deu lugar aos jeans e ao pólo lacoste… só a sigla de Voldemort estampada na testa o denuncia… cumprimento-o acenando-lhe com a cabeça …. Retribui o gesto. Diz-me que vem de uma quinzena no Algarve e não gostou. Lentamente amua a cabeça e fica pesado, cingido aos seus pensamentos e desilusões algarvias… sem magia….
Aperto o bilhete.
Ao fundo, Eduardo mãos de tesoura, passeia-se nervoso no cais de embarque disfarçado de Carioca e com a cesta da Cármen no topo da cachola.... Fora convidado para assistente especial do actual ministro das finanças para o amparar nos vastíssimos cortes a fazer no desperdício publico…. Embora repleto de tesouras, o pobre coitado só tinha duas mãos… preferiu refugiar-se em terras de Dom Pedro e aliar-se aos unidos da Tijuca para festivamente ajudar ao Entrudo vindouro recortando longas serpentinas …. Em ano de eleições, talvez Lula o inclua no magnífico mensalão que as estatais empresas Lusas insistem em fazer inchar e lhe assegure um cargo no país de eternos Carnavais….

O apressado Coelho, com um descomunal relógio na mão, salta de um imenso e imaginário país da maravilhas chamado Portugal para me alertar aos berros que o comboio se aligeira na chegada. E desaparece do horizonte entre dois magistrais saltos em direcção á toca profunda da moralidade e bons costumes desse país que já foi bem mais brando….
O expresso bloggar cumpre a chegada á hora anunciada. Amara fumarento no cais de embarque e larga a âncora para recolher estas almas náufragas de regresso a casa. No patim da carruagem, o arcaico cobrador retorce o olhar e resignado regressa ao miolo. Aqui não há almas natalícias a salvar. Nem crentes dúbios no pai Natal. Esperança e Felicidade são por aqui nomes bonitos de mulher. Nada mais….
Escolho ao acaso meu lugar na carruagem. Não há lugares marcados.
Dirijo-me á janela. Fumo um ultimo cigarro . rápido. O silvo metálico anuncia o roncar dos cavalos que hão levar-me embora. De regresso. Despeço-me da pedra e volto para o lugar no momento que a viagem começa…

-O Bilhete por favor…
Tenho-o apertado na mão e agora em descanso liberto-o. Cumpriu a magia. Voltou a ser apenas físico. Um pedaço de papel sem valor nenhum. O rodar da maquina em trilhos paralelos encerra o desejo do regresso que dantes estava estampado no cartão de cor parda.
-Aqui está…entrego-o em mão ao dócil cobrador que cruel lhe espeta o ferro deixando um pequeno orifício á mostra.
-Boa viagem … afasta-se rápido deixando-me entregue á minha sorte….

A viagem é rápida. Não tenho sequer tempo para dormitar um pouco.
Ao longe vou avistando o imponente Marão em que já ninguém manda. Nem para lá nem para cá…. A cada milha devorada pelo pouca-terra mais ele se aproxima. Esta virginal terra de ninguém que todos têm urgência em desamparar. A própria montanha que já tudo venceu adormece pesada e triste … em abandono.

Cheguei. Pára rápida a maquina num íngreme apeadeiro e saio só.
Retoma fumarenta a sua marcha deixando-me para trás sem um aceno…

Pela primeira vez em algum tempo cheiro de novo esta paisagem.
A enxurrada pacifica que varreu Agosto do calor, lavou de brilho a estrada maciça que me trás de volta. Ficou mais límpido e vistoso o caminho. Põe-me um sorriso no olhar.
Embrenho-me nestes milenares granitos . Aqui jorra a magia que Harry não descobriu em um outro país. Na cegueira….
Pé após pé em passadas firmes vou desbravando as ladeiras que me conduzem ao destino. O verde daninho que as pintalga ,será em breve trocado por um manto branco parido dos céus que no calor do telheiro irei contemplar em fascínio.
Avisto o farol , para onde me dirijo, que encima o interior. Hoje começa meu turno.
De grosso modo, na luz sublime que a lente projecta ciclicamente, tento alertar galés de mentalidade para que não se escombrem em duvidosas escarpas nestas encostas de perdição. Não sou eu o capitão que orienta o leme da barca. Tão pouco o navegador que traça a rota. Apenas um amigo!

Não sou filho pródigo… Voltei apenas…

sexta-feira, agosto 4

TELEGRAMA

Precisávamos disto!
Eu e tu.
Desta tensa acalmia , que o mês do Demo nos oferta. Para nos separarmos.
Não é este o tempo para te continuar a acordar, violento…agreste…cruel…
Também o tempo me é roubado.
Deixo-te no sossego … respirando sonolenta e ofegante nesta límpida madrugada, em que reclamas egoísta a longa noite que se não cumpriu , de abafada e asfixiante … Que te deixou á deriva … em insónia.
Precisamos da calma que o espírito exige! Para o lapidarmos em magia, na promessa de tempos melhores.
Cansamo-nos de esperar Godot. Era disparatado!
Fui-te entretendo com realidades! E entre gargalhadas e facadas atrozes…tentei animar-te e se possível deslumbrar-te, nesses 5 minutos que me consagras e que alguém reclama! Venero-tos!
Sussurrei-te – qual amante – o pérfido…e de ti veio sempre compreensão e regaço. Nunca menos….nunca demais…. E no delicioso embalo do teu colo, na mão doce que afaga meu conto… conquistamos a inquietude da paz. De um absurdo dever cumprido.
Caminhando lado a lado!
Desbravamos paisagens cinéfilas, de tão irreais na sua existência. Sondamos o quotidiano e cheiramos napalm… trouxe-te á terra. Á minha terra….

É justo que agora te cubra de rosas. Te sirva um vinho novo com travo a esperança! Que te leve envolta em silêncio, mostrando-te o Mar alem de finisterra! Sob um manto de luar…Que baile contigo. Em segredo…No segredo intemporal da viagem.
É justo que adormeças serena, sem mácula nem remorso.
É justo que te deixe acenando-te a promessa da semente e não do fruto.

Talvez raie uma gotícula de chuva no canto doce do olhar. Nos nossos rostos desconhecidos que só o coração revela, fica o silencio abrupto da paz dos sentidos e do sentimento conquistado!
Este é um dia de júbilo, porque o quero assim.
Dispo meu fato de agrura. Limpo ao farrapo da vida o meu rosto de mimo e baton. Sou apenas EU.
Que me vergo numa sentida vénia perante Tu. Tu que me leste e noites a fio me deste companhia. Vergo me a ti....Em gratidão.

Neste adeus, fica a jura.
Volto Breve. Ainda antes de , inertes, as primeiras folhas tombarem !
Descansa…vigiarei teu sono. Envolto num manto de silencio. Afastando de ti os demónios…

Paulo

terça-feira, agosto 1

NOITE


Sasha , chegara a Portugal no Outono pálido envolta no Inverno de Minsk. Viera nua de dignidade , das sendas de carne humana do Volga e Livornno… Seu corpo, andrajoso, cansado, usado e cheio de carnes, já não excitava homens fúteis dispostos a pagar euros por rápidos depósitos de esperma. Do “vulcão” que fora, restava a lava ressequida e espalhada ao comprido nas mantas de terra virgem ... Foi assim que Sasha conquistou a liberdade. De inútil que se tornou.
Sem pernas para mini-saia e enferma para a rua, Sasha , actua em alternes longos… onde vende copos e miragens … á percentagem.
Mantém seu nome de “guerra” , de ataque - Katiuska - e entre duas danças, rouba a inocência e esvazia a alimentícia bolsa do par.
Quando sentada, em longos e sensuais canapés cor de carmim, banhados por cintilantes brilhos de cristal que a encimada esfera rodopia, entretém o cliente - o “zebra” - para depois o chupar.
Rolam rápidos os vasos atestados de álcool e descalabro. O dela, cúmplice , cheio de água é sorvido rápido, para que venha outro… e outros….O zebra paga….
Nunca se despem os corpos. Desnuda-se cruel , a alma. Brinca-se com a sanidade , estatela-se a dignidade , reina a ilusão….
Katiuska ouve – em surdez - o mesmo rosário, do peregrino que em horas de lua narra e carpe o seu quotidiano. Esperando o assombro…
Sua submissão dura o tempo que o dinheiro pode pagar… nem um cêntimo menos…. Até lá, doce, afaga o rosto e a perna com que vai domesticando o comprador. Ouve milhares de histórias que não compreende e num esquisso bruto , simula percepção e compreensão. O desejo não é permitido…e rolam os copos , com os quais espera na sua magra dizima , acumular riqueza para voltar á terra amada aonde tudo é lúcido e compreensível. Aonde tudo será urgentemente esquecido.Mesmo a vergonha…. Até lá , rasga e suga todos os níqueis que pode, levando com eles o desespero do conto que não atingiu, da confidencia imperceptível, da promessa que não ouviu e dos lares que privou de pão e paixão, até os destruir… imaculada.

Katiuska, é nome de rocket soviético, que noite adentro o Hezbollah projecta como luzes da Natal sobre os céus israelitas até estourarem aonde seja, 15 léguas depois … em desgraça. Sem Festas nem cânticos…
Aqui, nestas paragens , Katiuska ainda é puta ágil e pouco rodada capaz de dezenas de fretes na mesma noite.
È o brinde do terror feito pelo Líbano para agradecer o alterne de Israel - que chega pesado, envolto em carnes e obrigado a um dialogo de surdos. Indiferente... Insensível….
Alapa-se em canhões de carmim - iluminados por raids celestes de balas brilhantes …e invade a fronteira da razão , na ânsia de danças de fogo.
Rolam os co(r)pos para os habitantes de Canãa , zebras, pagarem…

No doloroso acordar , de Tel-Aviv a Beirute - na ressaca diurna conta-se o dispêndio e acorda-se para a desgraça… entre copos partidos , carteiras vazias, corpos vencidos e ébrios , ninguém na magra dizima consegue amealhar o que seja para retornar a casa. Humilhados e em vergonha !!!!!!
Nem Sasha…nem Katiuska…
Exploradas desde sempre , no corpo e no copo ao anoitecer …. por figuras de rosto tapado , cobardes e imperceptíveis…. que na escuridão ou no lusco-fusco mantêm amantes de luxo e lhes ofertam jóias e perfumes , com o lucro fácil do suor do corpo daqueles que noite após noite , o vão fretando e sentindo desfigurado … esses que as observam , controlam, vigiam e as lançam no ataque ! “Esses” que governam países e educam nações ... “Esses” que ganham o ouro! Seja ele negro, branco, televisivo ou Santo!
IMACULADAMENTE…..

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