ROSA DOS VENTOS

O ribeiro frio que a Nascente avisto, vai sorvendo as margens e corre tranquilo rumo a casa.
Chove intensamente. Muito mesmo….Uma chuva doce, glacial , que se respira nostalgicamente…
Mais cheio, mais pesado, o interior é envolto numa espera.
As monções vão encobrindo a negrura , reservando a cada despertar uma neblina espessa , fria…que me obriga o corpo ao agasalho….
Nas ameias Norte deste castelo de ar, velo ao longe as inquietas hordas infiéis sempre em reboliço para tomar de assalto a fortaleza….
Em vigia….Aguardo o eleito!
No alcance limite do olhar , tento entrever um vulto em forma de Rei perdido na névoa!
Rezam os escritos que hás-de chegar assim, meu amo!
Numa gélida Outonal matina, no meio do espesso nevoeiro – que se há-de fazer esperança…altivo em teu cavalo negro, empunhando o estandarte da lusa e esquecida Pátria….
Superando a lenda, arribarás imperativo! Em valimento do teu povo que agoniza duma fome que não é de comer! Que nos torna esqueléticos de justiça…. Cansados deste rumo que a nau que Henrique almejou, leva!
Silencio de sentinela….
Esfrego as mãos frias no peito enregelado.
A sul, o horizonte enfada-me de nada mais vislumbrar que pequenas nuvens pastando. Camaleonicas, invertem entre um branco virginal e um cinza coração depois de fartas em alimento!
Regressa a descrença!
O grito da fome…
Será que virás hoje????
Cansei-me de consultar os magos, as bruxas e os adivinhos….
Os facínoras, preparam as catapultas e as bestas ( com que nos hão trespassar…) para novas guerras..
Quanto mais estas muralhas esventradas irão aguentar constantes socos de pedra???
Por quanto mais????
E é tudo que resta meu senhor! Estes alicerces centenários de uma pátria há muito sonhada…. Outrora Monárquica…hoje arrogantemente capitalista e republicana e em breve federada ou vendida!!!
Saqueada!!!!
Somos os últimos assomos desta terra! E lusos queremos tombar!
Que não seja em vão….
Vera Cruz gritou o Ipiranga e fez-se Domínio…
Depois de ensanguentado e vergonhoso….Os visionários deixaram o negro além-mar, sem dignidade…nem futuro…..
Perdemos o Império…os dedos e os anéis….
Por onde andas meu rei????
Raios te partam….
Não te fartas ainda de Alcácer-Quibir????
Pede teu corpo Jovem descanso??? Volúpia?????Mais????
Volvei Senhor….!
Faz-se tarde….
Irrompei de vez e furai o nevoeiro tempo! Rasgai em salto de cavalo o horizonte que vos guardo…
Calai os Oráculos….
Tomai Vossa esta Terra….
Picai a montada e ide célere ao Terreiro, brandindo a espada…
E ainda antes que os fieis arautos, anunciem em esperança o Vosso retorno….
Despedaçai o Foral de São Bento, auto-retrato dos traidores!…
Incendiai a chaimite….e degolai todos os Bobos que nela se escondem….
Basta de momices….
E depois…em absoluto…. Tomai seu lugar!
Acalmai os súbditos….matando a fome….

Todas as Fomes....
Escolhei os melhores e fazei disto um país….
E mesmo que não o entendas…
Que te assuste…
É Teu…
Já se verteu demasiado sangue por ele….
Por ti….

Eu….Continuarei nas ameias de granito gasto…Em Guarda….
Observando a debandada dos abutres…. o leito do ribeiro….
Esperando ver cumprir-se a pátria do poeta….
A poente….


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Sugestão musical : És cruel – Ena pá 2000
Sugestão cinéfila : O costureiro do Panamá