MIGRAÇÃO
Este parte…aquele parte…
E todos, todos se vão…
Galiza, ficas sem homens…
Que possam cortar teu pão….
Adriano Correia de Oliveira – Canção do emigrante
Hoje vergamos o corpo e espírito á terra. Descansamos a cruz….
Acudimos Atlas… Suportamos todo peso da orbe. Em credo!
É jornada de peregrinação de sentidos e nostalgia…De paz interior…
De silencio…
De pudor…
De um estranho pudor…
Gémeo com o nascer ou o parir…
Tiramos do arcaísmo esse léxico inaudível, telepático, que encerramos em cofre de Pandora ao longo dos dias restantes e usamos hoje!
Tornamos frágil nosso coração….Tão frágil quanto deveria ser!
Mas só hoje….Apenas hoje….
Hoje não é dia bonito, de sugestivas publicidades televisivas, que meticulosamente nos escolhem o presente…
A morte não vende!
Submete-nos!
Hoje rumamos á essência…. Ao desconforto…Á DOR!
Dos que partiram….
Que deixaram em nossas vidas, pão de memória …
Esses NOSSOS, que emigraram na barca do além e aguardam novas da terra árida em que deixaram semente….
Largaram de salto, contrabandeando a alma sem despedida….num pulo!
Num apelo …sem aviso!
Deixando-nos entregues á saudade, ao pão áspero da saudade….
Sem um beijo de despedida….
O gume branco da faca serrilhada que amordaça nossos gritos, ficou velho e ferrugento do desuso…
Implacável desuso….
E com ele, jaz na velha mesa da cozinha a petróleo, o pão de centeio que nos deixaram para matar a fome!!!!
Inteiro!
Ainda cheira a lume! Tem a côdea tostada …fumegante….fresca….
Irreflectidamente vogamos na idade….desandámos no tempo…..
Pisamos com socos de madeira, as lajes negras de fumo dessas cozinhas da alma….
Sentimos a candura, o sabor desse pão, cortado em nacos por sábias mãos…
Como facas...
Que sabe a sustento….
Tem sal no aroma….tem o mistério do fermento da vida, que germina perfeito no segredo….
Tem lume de pinhas e giestas….tem brasa de ramiços de pinheiro….
Se Deus quiser, há-de levar um naco de queijo de cabra ou a gordura do presunto… e será tragado no meio de sorrisos entre mãos gigantescas a afagarem-nos o rosto…
Regresso...
Está fria agora a cozinha , sem lume….
Sem Fumeiro….
Sem gente!
Parece uma campa de mármore alvi-negro!
Com um Cristo de bronze – indiferente - á cabeceira…
Talvez seja!
Pois nem os círios que acendemos têm força para aquecer os potes de água fervente que fariam caldo!
(Ou trazer de volta quem o sabia fazer….)
Nem as gélidas flores que estendemos na terra como lençóis de gratidão , soltam pólen de presença…….
NUNCA mais afrouxamos as palavras engasgadas, que ficaram por dizer…por ouvir….
Carpimos lágrimas…
Inodoras, puras, cristalinas…
Que escorrem pela cara curva… até ao chão….
Iguais ás que nos choram….
Neste brusco crescer que fez com que a(o)s entendêssemos…
Trancamos a porta…correndo o ferrolho no Sinal da Cruz….
Apressamo-nos a partir….
(Também nós partimos…)
Deixamos o pão intocável em cima da mesa…
Não há pão que mate esta fome da saudade…apenas a alimenta!
Vidago, 1 de Novembro de 2006
………
Hoje sugiro o silêncio!
Comentários
chamar por quem não nos responde,
e abraçar quem não nos vê.
Perdoa-me de ser egoista ao ponto de sentir como se entrastes na minha alma que te revelou o sentimento atrás deste texto...
Como é que sabes?... Como é que poderias saber?...
São poucos os textos que me emocionam a lagrimas, é preciso saber falar directamente ao meu coração... it takes one to know one? Ès immigrante Paulo Santos?
Hoje mais que nunca, estendia-te a mão pelo ecrã e convidava-te para um passeio... mais que nunca, tenho curiosidade de te conhecer.
Parabéns pelo excelente texto... para mim teve um especial sabor e significado... Obrigada.
Uma Homenagem intensa aos que partiram!
Aos que nos deixaram... Aos que abalaram!
Essa dor da visita!Da ida ao tumulo venerar a saudade!
Mais que amar, este texto tocou me cá bem no fundo!
Admiro muito a tua escrita!
ÉS um escritor!
Parabens!
Beijo grande
Saudades? Sim, sem dúvida.. muitas mesmo! Mas não deveríamos nós, em vez de lamentar as partidas, congratularmo-nos por termos tido o privilégio de termos tido essas pessoas maravilhosas na nossa vida?
Homenagear a vida em vez da morte! Lembrar essas pessoas pelo que foram, não pelo que deixaram de ser...
Hoje não vou ao cemitério, prefiro dias menos confusos. Mas não deixo de recordar aqueles que me fazem falta...
Obrigado por este texto lindo.
Beijinhos
bj d
d
Eu que sempre tive mais espirito dos que partem do que dos que ficam... e em comum, sempre a saudade...
beijinhos grandes
O resto é pura reflexão...
um abraço
Tocaste-me...
Beijinhos
Bonito texto. Continua a escrever dessa maneira.
Silêncio...
Beijinhos
Vou partir. Deixo-te um beijo
Os que partiram deixaram-no com a saudade cabe a nós multiplica-lo com a alegria.
As duas metades do meu coração infelizmente partiram (prefiro pensar assim).
Não me deixaram nada.
Nem um pedaço de pão.
Agora multipico o nada com quê?
Hoje excepcionalmente os unicos beijos que dou são para 'eles'.
Obrigado pela vesita.
Tb gostei, virei mais vezes
Beijo
Sereia
És sempre bem vindo.
Quanto ao que escreves...bem...só posso dizer que quem não sentiu algo...não tem coração.
Beijo
bj d
d
Tenho andado desaparecida, mas vim aqui deixar um beijo buchechudo! lololol
emn***
Lindo texto.
beijinho
Um beijinho***
:)=
1975
Hawkwind-The Golden Void Part II
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Hawkwind-The Wizard Blew Is Horn
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Hawkwind-(live)-Wheels
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NOTA: SÓ DISPONÍVEL NOS PRÓXIMOS 7 DIAS.
E um beijo meu, para ti Paulo.
Este post espelha a transparência do que ficou... por dizer, por fazer, do vazio que ficou por povoar.
Obrigada.
Abraço amigo
E depois a referência à saudade, a esse pão que não pode mais ser partilhado, que talvez não soubemos partilhar enquanto podíamos...
Revelaste de facto uma extrema sensibilidade.
Silêncio.
Não posso deixar de te dizer que me emocionei quando li o teu comentário. O Para ti acabou. Foi uma fase, longa mas que finalmente chegou ao fim. Tal como disse descobri muita coisa nova. Uma delas és este mundo misterioso que une os bloguistas e nos faz sentir e encontrar tanto conforto nos seus meandros.
Paulo, nunca deixarei de te visitar porque tal como disse tambem já fazes parte do meu mundo. Avredita que o carinho que sentes por mim é recíproco.
um beijo enorme Para Ti
Quero acreditar que depois da morte, iremos um dia voltar a terra, mas encarnando outra personagem, espero que sim...
Obrigada pela visita :)
É óptimo poderes partilhar tudo isto connosco e nos mostrar a tua escrita.
Uau.
Hoje o teu texto precisa de ser mastigado e bem compreendido.
Gostei desta tua forma.
Aproveito para desejar bom fim-de-semana, e deixar-te um beijinho grande também :D **
Iria acabar banhada em lágrimas,o que pode ser efectivamente bom,mas hoje certamente não o seria.
A tua sensibilidade fascina-me!
Muitos parabéns...(o pouco que li bastou para possuír uma opinião!)
bjs*
Beijinhos migo
Toca a alma!
Maria L.
Prefiro o silencio. Assim vou ficar. As vezes se faz necessário!
carinhos
bjinhos adorei
Parabéns pelo teu excelente texto.
Fiquei muito emocionada.
Em dois anos perdi duas pessoas que amava.Amava mesmo. Um amor verdadeiro, de neta para avós.
(Cai-me uma lágrima).
Não há dia nenhum que passe que não me lembre deles. Não há dia nenhum que a saudade não dilacere o meu coração. Partiram. Tive o privilégio de passar com eles trinta anos da minha vida.
Como costumo dizer" a minha vida é um homenagem permanente ao meus avós!"(cai-me outra lágrima).
Um beijo,
Sem mais palavras.
Ficarei só com a música.
Boa semana
Silêncio é o som de Vidago, não?!
Passei pelo teu cantinho e gostei muito!
Parabéns...!!!
Bjs
Como eu gostaria de escrever assim! :-)
Não há dúvida... escreves com a alma!
Fica bem
Um beijinho da Flor :D
Sem palavras... Adorei... Aqui fica o que canta a tradição Açoriana sobre a Saudade:
"A palavra 'saudade'...quem será que a inventou?
O primeiro que a disse concerteza que chorou...
Mandei fazer um navio com vinte e quatro janelas.
Ai, para embarcar Saudades, que já não posso com elas...
Fui chorar saudades ao pé de uma fonte fria
Era mais o que eu chorava do que a água que corria..."
Se te conseguisse deixar a melodia aqui num simples comentário seria mais fácil... infelizmente ficam apenas algumas das quadras das tantas canções/"balhos" de SAUDADE... não estão tão beonitas como o teu texto mas são deveras sentidas por todo o povo.
Beijo enCANTAdo
Beijos enormes para ti :)