CINECITTÀ
Post oferecido a Ruby sackville-baggins (My blue room- rubysackvillebagins.blogspot.com)
A metrópole é um bicho cruciforme que caminha sobre andas. Em metamorfose.
Alimenta-se de vício e regurgita misérias!
Não me assiste o direito de a demolir!
A cidade tem todo o direito de prosperar! De se reinventar, de crescer e progredir! De seguir em frente!!!!!!
Doa a quem doer…
Aqui, o fim da tarde tem cheiro! Cheira a granito amarelo nos frontispícios da cidade velha depois de batidos pelo estival sol de Outono. Saem as velhas para aquecer brasas.
O homem urbano vive mais acima. Na ala nova. Não se mistura. Cá jazem os trapos remendados da realidade.
Na ala moderna, tudo vive deslumbrante em neons digitais, na vertigem da moda!
Na ânsia desmedida do novo, do imediato… e empurra-se o lixo para aqui. Em armazém.
Depósito de prédios esventrados de cal e tabique, de ruelas castanhas despidas de verde, de automóveis velhos e carroças, de gente porca e imunda.
De cima, brota a apatia a estas lixeiras a céu aberto! Demarca-se na pele e no cheiro a fronteira entre o bonito e o feio….e respira-se esta indiferença como dióxido de carbono….
Já não me lembrava de percorrer estes ladrilhos. O chão ainda é o mesmo chão. Ainda dói. Muito!
Palmilho estes paralelos esfacelados, á medida que a noite se declara.
A sombra vai entrando e conquistando, cobrindo de escuro as fachadas. Surgem por fim os anjos negros. Trajando de gente….
Nas vidraças sujas, acordam vultos de farrapos, alumiados por uma lâmpada amarela que se solta do tecto.
Silenciosos, com olhos felinos, profetizam o medo em rostos de documento….
Os candeeiros multicolores de formas destemidas acedem-se ao longe, lembrando um oásis...uma terra prometida! O homem urbano acorda do stress primário e lança-se na vertigem do consumismo… é um devorador de produtos e imagens, de ócio, de luxo e de sexo. Acaba por aceitar imagens impostas ao seu olhar, da mesma forma que acredita no branco mais branco da propaganda do detergente….ou das tipas boazonas que vendem automóveis….Hipnoticamente…
Por vezes, a sensação do vazio, a repetição desmesurada do dejá-vu, impele-o até á fronteira! Para satisfazer a necessidade absurda de exotismo! E diverte o olhar com os fantoches desdentados e rotos do outro lado….soltando por fim um aceno cabisbaixo e imperativo…Que miséria!!! Exclama, sem tempo para pensar …. Enquanto um outdoor descomunal de imagens festivas lhe apela ao endividamento…
De novo o rito da indiferença….O retorno á segurança. Ao palco da ilusão. À beleza do silicone…
A realidade vislumbrada, evapora-se … Já só restam fragmentos com que se hão contar historias de ninar, sobre sarroncos e bichos-papões….
Na paragem do bus, afrouxam ruidosamente os últimos machibombos que escarram magotes de gente. Regressam as almas . Os operários que acendem o clarão na ala nova. Os artesões da aparência!
Rapidamente trocam o sapato de agulha pelo chinelo raso e limpam no lenço de papel descartável o baton Lancôme…. Cruzaram a raia!
Apresso-me… já não sei onde fica a cidade. Nem sei o que estou aqui a fazer!
Vim procurar a origem e descubro , na decadência, outro tempo…
Cruzo-me com as almas que arribam , na escuridão das vielas e nem um pio se solta. Apenas olhares de indiferença, de espanto ou de vergonha!
A gravata azul de nó largo que ostento é mais que uma gravata! É uma adaga que desfere golpes nos olhares que me seguem. Que acirra ainda mais a decadência…a inevitabilidade do confronto….
Talvez já seja um bicho do outro lado! Onde só bate um coração de betão armado e rebocado a branco virgem….
A metrópole é um bicho cruciforme que caminha sobre andas. Em metamorfose.
Alimenta-se de vício e regurgita misérias!
Não me assiste o direito de a demolir!
A cidade tem todo o direito de prosperar! De se reinventar, de crescer e progredir! De seguir em frente!!!!!!
Doa a quem doer…
Aqui, o fim da tarde tem cheiro! Cheira a granito amarelo nos frontispícios da cidade velha depois de batidos pelo estival sol de Outono. Saem as velhas para aquecer brasas.
O homem urbano vive mais acima. Na ala nova. Não se mistura. Cá jazem os trapos remendados da realidade.
Na ala moderna, tudo vive deslumbrante em neons digitais, na vertigem da moda!
Na ânsia desmedida do novo, do imediato… e empurra-se o lixo para aqui. Em armazém.
Depósito de prédios esventrados de cal e tabique, de ruelas castanhas despidas de verde, de automóveis velhos e carroças, de gente porca e imunda.
De cima, brota a apatia a estas lixeiras a céu aberto! Demarca-se na pele e no cheiro a fronteira entre o bonito e o feio….e respira-se esta indiferença como dióxido de carbono….
Já não me lembrava de percorrer estes ladrilhos. O chão ainda é o mesmo chão. Ainda dói. Muito!
Palmilho estes paralelos esfacelados, á medida que a noite se declara.
A sombra vai entrando e conquistando, cobrindo de escuro as fachadas. Surgem por fim os anjos negros. Trajando de gente….
Nas vidraças sujas, acordam vultos de farrapos, alumiados por uma lâmpada amarela que se solta do tecto.
Silenciosos, com olhos felinos, profetizam o medo em rostos de documento….
Os candeeiros multicolores de formas destemidas acedem-se ao longe, lembrando um oásis...uma terra prometida! O homem urbano acorda do stress primário e lança-se na vertigem do consumismo… é um devorador de produtos e imagens, de ócio, de luxo e de sexo. Acaba por aceitar imagens impostas ao seu olhar, da mesma forma que acredita no branco mais branco da propaganda do detergente….ou das tipas boazonas que vendem automóveis….Hipnoticamente…
Por vezes, a sensação do vazio, a repetição desmesurada do dejá-vu, impele-o até á fronteira! Para satisfazer a necessidade absurda de exotismo! E diverte o olhar com os fantoches desdentados e rotos do outro lado….soltando por fim um aceno cabisbaixo e imperativo…Que miséria!!! Exclama, sem tempo para pensar …. Enquanto um outdoor descomunal de imagens festivas lhe apela ao endividamento…
De novo o rito da indiferença….O retorno á segurança. Ao palco da ilusão. À beleza do silicone…
A realidade vislumbrada, evapora-se … Já só restam fragmentos com que se hão contar historias de ninar, sobre sarroncos e bichos-papões….
Na paragem do bus, afrouxam ruidosamente os últimos machibombos que escarram magotes de gente. Regressam as almas . Os operários que acendem o clarão na ala nova. Os artesões da aparência!
Rapidamente trocam o sapato de agulha pelo chinelo raso e limpam no lenço de papel descartável o baton Lancôme…. Cruzaram a raia!
Apresso-me… já não sei onde fica a cidade. Nem sei o que estou aqui a fazer!
Vim procurar a origem e descubro , na decadência, outro tempo…
Cruzo-me com as almas que arribam , na escuridão das vielas e nem um pio se solta. Apenas olhares de indiferença, de espanto ou de vergonha!
A gravata azul de nó largo que ostento é mais que uma gravata! É uma adaga que desfere golpes nos olhares que me seguem. Que acirra ainda mais a decadência…a inevitabilidade do confronto….
Talvez já seja um bicho do outro lado! Onde só bate um coração de betão armado e rebocado a branco virgem….
Talvez o seja ,a estes olhos…
A cidade tem todo o direito de prosperar, de crescer e progredir!
Não me obriguem é a gostar!
Por aqui vive-se como quem morre….
Sugestão musical – “Um homem na cidade” – Carlos do Carmo (Ary dos Santos)
Sugestão cinéfila - três cores – Azul ,Branco ,Vermelho (trilogia) - Krzysztof Kieslowski
A cidade tem todo o direito de prosperar, de crescer e progredir!
Não me obriguem é a gostar!
Por aqui vive-se como quem morre….
Sugestão musical – “Um homem na cidade” – Carlos do Carmo (Ary dos Santos)
Sugestão cinéfila - três cores – Azul ,Branco ,Vermelho (trilogia) - Krzysztof Kieslowski